segunda-feira, 2 de julho de 2012

NATUREZA MORTA


Cristine Weck - Natureza Morta I - Fotografia - 2012

  
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Cristine Weck - "Natureza Morta"- Linoleogravura - 2012

Natureza-morta", nature morte", still life", stilleben", stilleven.

 
Cristine Weck - Natureza Morta - acrílica s/tela (1999)
          A expressão "natureza-morta" classifica um tipo específico de arte, ou melhor, um GÊNERO da pintura e da fotografia. Provavelmente tem sua origem no holandês STILLEVEN  (natureza em pose ou natureza imóvel).

Trata de mostrar seres inanimados, organizados geralmente sobre uma mesa. São objetos que se referem ao dia a dia, da vida doméstica, às vocações e aos hobbies, à decoração e ao convívio no interior da casa como: comidas, bebidas, louças, flores, frutas, instrumentos musicais, livros, ferramentas, cachimbo, tabaco, taças, etc.
 
Cristine Weck - Frotagem - 2010

Cris.Weck - Fotografia 2012
Cris.Weck - Fotografia - Natureza Morta III  - 2012

ISAR P. WECK - Naturezas Mortas - técnica mista sobre papelão

 

 
Eu então, diria que: Natureza Morta é uma pintura ou fotografia de uma natureza organizada pelo artista, ou com sua  interferência, ou seja, não  natural,  como no caso da obra acima, de Nicolas - Antoine Taunay - o papagaio está fora do seu habitat natural, está "doméstico", pertence a  categoria de "coisas" de  uma residência,  assim como o gato.


Este tipo de pintura vai aparecer como gênero artístico independente somente lá pela metade do século XVI. Antes disso, compunham  o fundo de pinturas com outros temas como as religiosas.
 
O interesse do pintor em representar os objetos em si, estava voltado para cor, forma, superfície, luz e até mesmo no espaço que os circunda, mas também com importância simbólica refletindo a atenção dada ao acúmulo de riquezas.
Às vezes as composições assumem sentido moral, prata e ouro traduzem as futilidades das riquezas; ampulhetas e todo tipo de relógio - a brevidade da vida – e bolhas e cristais  a sua fragilidade.

Na França, início do século XVIII, as pinturas de coisas mortas e sem movimento não eram muito apreciadas, considerada uma “pintura menor” somente em 1756 é que a palavra Natureza-Morta surge em francês.
Este gênero alcança o seu ápice no final do século XIX e início do século XX, com as conquistas formais de Cézanne, o cubismo de Picasso e Braque e Giorgio Morandi. 

Para Morandi, a natureza-morta é uma maneira de ser, um filtro através do qual a realidade é lida, interpretada e sublimada. O artista resgata a vida silenciosa da matéria inanimada, transmitindo em cada obra a sensação de que se está diante de algo único e absoluto.¹
Morandi  -  Natureza Morta -  Oleo s/tela - 1956 -
As Vanitas
Vanitas é um “gênero particular de natureza morta com significados filosóficos e morais, em que os objetos representativos das riquezas da natureza e das atividades humanas são mesclados a elementos evocativos do triunfo da Morte, principalmente crânios.(...)
          Este gênero surge em Leiden, Holanda, por volta de 1620,  devido ao crescimento da vida intelectual e artística (...) Leiden era grande centro de estudos filosóficos, emblemáticos e anatômicos”²

Objetos representados nas Vanitas possuíam significados, o artista queria levar o espectador a meditar sobre a inutilidade dos prazeres do mundo face à morte que tudo devora, ao “memento mori”³, como:

Objetos que lembram a vida terrena contemplativa (ciência, literatura e arte), vida voluptuosa, os prazeres (sentidos), a riqueza (dinheiro), o poder (armas);
Objetos que aludem a brevidade da vida devido à passagem do tempo:  ampulhetas e relógios, a destruição da matéria (flores que perdem as pétalas, frutas podres, pedras rachadas), vidros (taças, garrafas, velas).
         Antes da fotografia, a grande finalidade da pintura em geral era produzir uma imagem que levasse o observador a exclamar: é exatamente igual a realidade!”.

 A fotografia desenvolvida no século XIX mudou as regras da representação pictórica, pois assume o compromisso de retratar fielmente o real, antes função da pintura.

Cristine Weck - Natureza Morta II - Fotografia -2012

A pintura de natureza-morta já não poderia mais ter como objetivo a verossimilhança.

Picasso - natureza-morta com crânio e jarro – 1945

Alguns artista e suas obras:
Jean-Siméon Chardin (1699 - 1779) é o grande pintor francês de naturezas-mortas e obras de gênero. No célebre A Arraia (1728) evidenciam-se suas preferências de composição: a prateleira de pedra e a austera ambiência interior, os objetos dispostos segundo uma ordem prática (sugerindo atividade humana), as texturas do linho e da cerâmica, o gato em meio às ostras e a arraia sangrenta no centro do quadro.

Jean-Simón Chardin – A Arraia

Na história da Arte Brasileira as composições com frutas e vegetação de Albert Eckhout (1610-1666) encontram-se entre as primeiras naturezas-mortas realizadas. Albert Eckhout, pintor, desenhista, artista plástico e botânico holandês, foi autor de pinturas do Brasil holandês, pintando a população, os indígenas e paisagens da região Nordeste do Brasil. Viajou também por outras regiões da  América.

Albert Eckhout “Frutas Brasileiras” ( XVII), Óleo sobre tela,91 × 91cm

No século XIX, com destaque para as produções de Agostinho da Motta (1824-1878) e Estevão Silva  (1844-1891), pintores  do Rio de Janeiro.

ESTEVÃO SILVA PINTOR NEGRO ACADÊMICO  DE NATUREZAS MORTAS. Primeiro pintor  e  professor de pintura negro de destaque, formado pela Academia Imperial de Belas Artes, notabilizou-se por suas naturezas mortas, sendo considerado um dos maiores expoentes da arte brasileira no gênero.                           

Estevão Silva

Já em São Paulo, na primeira metade do século XX, destaca-se a produção de Pedro Alexandrino (1856-1942). 

Com os artistas reunidos no Núcleo Bernardelli e Grupo Santa Helena, nas décadas de 1930 e 1940, o gênero ganha nova importância na arte brasileira.
 Nos anos de 1950, Milton Dacosta (1915-1988), Iberê Camargo (1914 - 1994), entre outros, realizam naturezas-mortas.

IBERÊ CAMARGO (1914 ­ 1994) Natureza morta - Gravura em metal 06/15 - 33 x 41 cm

Referências de Pesquisa :

1 Renato Miracco é crítico de arte e Maria Cristina Bandera é diretora da Fundação de Estudos
da História da Arte Roberto Longhi, de Florença (Itália).
 2 e 3 Siqueira, Sônia.Docente da FATEA - Lorena. 
Fonte: http://publicacoes.fatea.br/index.php/angulo/article/viewFile/229/18
* Texto de parede da exposição realizada no período de 4 de agosto a 10 de setembro de 2006, na Estação Pinacoteca, em São Paulo (SP), com curadoria de Renato Miracco e Maria Cristina Bandera.  http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n58/19.pdf


Documentário sobre a exposição 'A Natureza-Morta na Europa'.

Video:
Paletas - A Arraia - Jean Siméon Chardin http://www.youtube.com/watch?v=UHWplg1hx0Q

Bibliografia:
Schwarcz, Lilia Moritz. O Sol do Brasil. Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de d.João. São Paulo.Companhia das Letras. 2008.

Imagens:
 IBERÊ CAMARGO (1914 – 1994) Natureza Morta – Gravura em metal – 33 x 41 – 06/15 - ass. inf. direito 1957. Fonte: http://www.tntarte.com.br/tnt/scripts/2006_marco/imagens.asp?page_ini=131
 HERRERA, Cristian - Havaianas Verdes – Óleo s/ tela col madeira – 30 x 39 cm - ass. centro inferior 2004.
SCLIAR, Carlos (1920 – 2001) Flores, Bule Azul, Ferro de Passar, etc – Vinil e colagem encerados s/ tela – 65 x 100 cm – Cabo Frio – 1997.
Fonte: http://www.tntarte.com.br/tnt/scripts/2006_marco/imagens.asp?page_ini=131
Picasso  -   http://professoraalicebotelho.blogspot.com.br/2010/03/natureza-morta-2-ano.html