Todos os anos exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de florestas e até inúmeras palavras das nossas línguas. A cada minuto extinguímos uma espécie de aves e alguém em algum lugar recôndito contempla pela última vez na Terra uma determinada flor.
Konrad Lorenz não se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por concluir.
Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática como a ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efêmeras.
Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tribo da sensibilidade...
(José Saramago, in 'Revista Universidad de Antioquia (2001)' )
http://www.citador.pt/textos/produzimos-uma-cultura-de-devastacao-jose-de-sousa-saramago
- 11/03/2015 12:50h
José Saramago, in 'Revista Universidad de Antioquia (2001)'
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