domingo, 24 de julho de 2011

Gravura - Breve histórico - 1ª Parte

A gravura surge despretensiosa de ser Arte. Surge provavelmente da observação das marcas deixadas nas diversas superfícies por onde passaram nossos ancestrais pré-históricos.
Das observações dessas marcas, o nosso ancestral pré-histórico percebeu as possibilidades expressivas e decorativas dessas "feridas" deixadas por ele e passou a fazê-las propositalmente, decorando objetos, entalhando ossos, madeira, rochas, riscando, sulcando.
        A princípio podemos dizer que a palavra GRAVURA vem de:

      Gravar - do grego grafó que significa entalhar, insculpir, burilar, escrever.
                       OU
     Graphein que significa escrever ou desenhar

A Gravura Paleolítica  
       
        As primeiras manifestações artísticas que se tem conhecimento, são do período do Paleolítico Superior (à cerca de 30 mil anos), chamada de Arte Rupestre – são pinturas e gravuras realizadas na rocha ao ar livre ou paredes de  cavernas.
        As Gravuras Paleolíticas foram realizadas através das técnicas de picotagem e abrasão.
        Exemplos dessa Arte Pré-Histórica, encontramos em Altamira (Espanha), na Líbia, no Vale de Rio Côa em Portugal e no Brasil -  em sítios arqueológicos do Rio Grande do Norte.
       
“O Complexo de Arte Rupestre do Vale do Rio Côa  situa-se ao longo das margens do Rio Côa e forma uma rara concentração de arte rupestre composta por gravuras em pedra datada do Paleolítico Superior(...).”
“As gravuras têm como suporte, superfícies verticais de Xisto(...)”
 O tamanho das gravuras varia entre 15 e 180 cm.
As técnicas de gravação usadas são a picotagem e o abrasão, que por vezes coexistem, com o abrasão regularizando a picotagem. Os traços são largos, embora sejam por vezes acompanhados de uma grande quantidade de finos traços, que serviram de esboço ou complementavam os anteriores.(...)
As gravuras representam essencialmente figuras animalistas, embora se conheça uma representação humana e outra abstrata.” ¹

Obs: Vale do Rio Côa fica em Portugal.
        Xisto é um tipo de rocha metamórfica, são rochas laminadas.


As Técnicas

Picotagem: A gravura realizada através desta técnica resulta de pequenos impactos, ou seja, aprofundavam um pouco a linha do desenho na rocha batendo com algum instrumento, de igual  ou maior dureza que o suporte (rocha onde era feita a gravura).


Abrasão: Gravura feita por atrito ou raspagem, provavelmente com outro pedaço de rocha.

“No estado do Rio Grande do Norte podem ser encontrados sítios arqueológicos com registros rupestres em todas as regiões geográficas, com exceção da faixa litorânea. (...)
Com relação às gravuras rupestres, podem ser observadas nos sítios arqueológicos existentes nas várias regiões do Estado, cinco técnicas de execução na elaboração dos registros:
a) raspagens simples;
b) raspagens com posterior polimento;
c) picotagem simples;
d) picotagem com posterior
polimento;
 e) raspagens com posterior colocação de pinturas e vice-versa.” (Valdeci dos Santos Júnior – Mestre em Arqueologia pela UFPE)

Foto 2
"Técnica da picotagem com posterior polimento - Sítio Arqueológico Ingá - área arqueológica de Santana - Município de Angicos - Região Central do Rio Grande do Norte."¹

 Foto 3
Técnica da picotagem simples - Sítio Arqueológico Pinturas – Município de Santana do Matos - Região  Central do Rio Grande do Norte.

        As mãos decalcadas nas rochas, desse período, também são exemplos de gravuras Pré-Históricas,  passavam pigmento nas mãos e as pressionavam contra a rocha. Estavam imprimindo uma imagem, imprimindo a forma de suas mãos. Imprimir é uma etapa da GRAVURA - mas que passou a ser utilizada posteriormente, com o desenvolvimento das possibilidades desta forma de Arte.



Arte Rupestre da Líbia
Atividades realizadas com meus alunos do 6º ano - Aula de Artes: Gravura.

Explorando texturas através da técnica da Frotagem.



Coloca-se a uma folha sobre a textura (elemento vazado)

        Esfregar o giz de cera deitado com cuidado para não sujar muito a folha com riscos indesejáveis.
Ir mudando de posição a folha, trocando também a cor do giz.
     Coloque o outro elemento, e seguir o mesmo processo que o anterior, mudando de lugar e cor, sobrepondo as figuras
Resultados da Frotagem






         Imprimindo / carimbando  as mãos em papel pardo amassado, utilizando como pigmento: argilas, guache branco e carvão.
      
Alunos 6º ano 2011
São técnicas que possibilitam criar efeitos parecidos com as gravuras pré-históricas.

Sugestões para ver no Youtube


  • VIDEO ANIMAÇÃO: Uma animação muito boa realizada por Diego Amorim como Trabalho de Conclusão de Curso de Artes-ECA/USP é KOMUM: 

(Descobertas de um homem  pré-histórico - descobrindo as possibilidades de expressão através da pintura:
http://www.youtube.com/watch?v=sttIOcwB3lE  )
 

Carimbo
http://www.youtube.com/watch?v=47rwfz1rPnw&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=Zm298wQYFrk&feature=related


segunda-feira, 11 de julho de 2011

GRAVURA - Introdução

Desde que trabalhei a Gravura com os alunos na escola, em forma de uma Mini-Oficina, tenho sentido  necessidade de voltar  a faze-la. Andava sem tempo, energia, nem inspiração para "por a mão na "massa", fazer meus trabalhos. Meio sem alma! 
Sou apaixonada pela Escultura e a Gravura, em especial, as modalidades da Xilogravura, Cologravura, Linóleo e Frotagem (Frotagem também pode ser considera uma modalidade da gravura).
A Escultura e a Gravura possuem um momento - um estágio em comum (deve ser por isso que prefiro as duas).
A MATRIZ da Xilogravura, não deixa de ser uma escultura, pois escava-se, entalha-se uma imagem em  relevo, para depois imprimi-la. O artista André de Miranda fala da gravura como: "uma arte da raiva. Você corta, fere, rasga a pele da madeira.(...) Portanto cada original traz os vestígios dessa violência, por mais que se tente esconder".
Mas é uma violência canalizada em busca do Belo.
Em uma das postagens anteriores já mostrei alguma coisa sobre Gravura (Mini Oficina de Gravura), um trabalho realizado com meus alunos do 9º ano da escola em que eu estava dando aula.
Resolvi então dedicar mais algumas postagens sobre GRAVURA – entrando um pouco na história, artistas e suas obras, técnicas e claro, não vou deixar de mostrar alguns trabalhos meus.
Nesta 1ª parte sobre GRAVURA, vou mostrar alguns trabalhos, que eu gosto muito,  do artista carioca, contemporâneo, André de Miranda. Todas as suas gravuras são maravilhosas, mas tenho  algumas preferidas. André de Miranda esteve aqui em Campo Grande (MS), neste mês de julho/11 para a abertura de sua exposição “VIVA A GRAVURA!” que é uma retrospectiva dos seus 30 anos de gravura, no MARCO (Museu de Arte Contemporânea de MS). O artista também ministrou  mais uma Oficina de  Xilogravura. Fiz a 1ª oficina, anos atrás, foi ótima!
Dessas gravuras que eu gosto muito, André de Miranda trabalha, imprime sobre encartes de propaganda de imóveis, ou jornais. São as xilogravuras da série “Xilocidade – memória urbana gravada”. A cor fica por conta do fundo, que também é um material impresso. Ficou muito interessante.
Essa série, segundo a artista visual Manoela Afonso, é “um movimento poético em busca do registro da memória arquitetônica urbana”.

"Meier 03" - da série Xilocidades - André de Miranda
Xilogravura - “Zona Sul” - André de Miranda

 André de Miranda
"VASO PRETO S/ TOALHA BRANCA
linoleogravura - 1999
17,2 X 20,4 cm


Uma outra série sua,  exposta no MARCO,  André de Miranda  trabalha a desconstrução, rasgando as suas xilos e reorganizando-as de forma diferente através da colagem. Muito bacana!


Cidade 44

André de Miranda
Colagem das suas xilos - 12 X 16 cm – 2008


Cidade 91
André de Miranda
Colagem das suas xilos - 12 X 16 cm – 2008

              E para não deixar de prestigiar o  Ano Internacional das Florestas, coloco a Xilo de uma ÁRVORE, de André de Miranda, a qual  ele dá o nome de SOLIDÃO.

"SOLIDÃO"
André de Miranda
xilogravura - 2004
5 X 9,5 cm
André de Miranda - Desenhista, pintor e gravador, considera-se autodidata, embora tenha estudado e freqüentado diversos ateliês de gravura, tendo aulas de xilo com Ciro Fernandes e Anna Carolina Albernaz, metal com Marcelo Frazão e Heloísa Pires Ferreira. Coordenou oficinas de Xilogravura em diversas cidades de MS, Rio, Curitiba e Porto Alegre.

Folder da exposição no MARCO: Viva a Gravura! Uma retrospectiva dos 30 anos de gravura de André de Miranda
http://www.iar.unicamp.br/cpgravura/cadernosdegravura/downloads/p3_GRAVURA_2_nov_2003.pdf
http://xilogravandocia.blogspot.com/
http://mirandart.blog.uol.com.br